por F. Morais Gomes

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Out 10

Artur conduzia a motocicleta a alta velocidade quando fazia entregas ao domicílio. Naquele dia, chegara adiantado à morada indicada. Trânsito no IC 19 calmo, não fora necessário sair muito cedo do Cacém, as pizzas ainda estavam quentes. Anoitecia quando parou junto a uma vivenda, um quanto isolada, em Meleças. Era uma havaiana familiar, ananás, chourição e cogumelos. O Rogério, seu chefe no Pizza Hut, conhecia bem o cliente e enviava-lhe também uma carta por seu intermédio aproveitando a viagem.

Era uma zona com poucas casas, urbanização recente. Encostou-se a um muro e acendeu um cigarro, esperando pelo cliente, ninguém atendera a campainha, chegara 15 minutos antes da hora marcada. Entre uma baforada e outra, pensou em Joana. Já tinham comprado as passagens para a Suíça. Lá, tinha alguns amigos que lhe prometeram trabalho num restaurante, coisa limpa, vistos de permanência, tudo o mais, iam tentar uma nova vida.

Isto de entrega de pizzas não era coisa segura.Na loja há dez meses, sempre à disposição, a qualquer hora, contrato a prazo sempre incerto. Rogério mandava, ele corria a fazer mais uma entrega. À noite era um vê se te avias, margherita para S.Marcos,  calzone para Mira Sintra, massa fina, familiar.

-Isto não é futuro!– pensou. – becos escuros na Tapada,ruas perigosas em Colaride…

Envolvera-se com Joana, mulher do seu chefe no Pizza Hut. Quando ficara sem emprego no Lidl, Rogério arranjou-lhe trabalho no restaurante onde era gerente, e ainda lhe alugou um anexo atrás da sua casa para morar, perto dali, um quarto e casa de banho. Uma noite de trovoada, em que Rogério fora jogar snooker ao Lubango, ela batera-lhe à porta do quarto, não conseguia dormir, e não pôde evitar. Foi coisa de dez minutos.

Agora iam fugir para a Suíça. Tinha juntado algum dinheiro, daria para os primeiros tempos, iriam no dia seguinte, de surpresa para evitar a reacção de Rogério. Mais tarde, dariam notícias de forma discreta.

Chupou o cigarro e deixou que a fumaça lhe envolvesse o rosto. Eram raros os momentos em que podia apreciar um, sempre com pressa, enquanto esperava para entregar a pizza e o envelope.

- Só espero mais 5 minutos! Onde é que este gajo se meteu?

Mirou  o envelope, fechado,pareceu-lhe leve demais. Esta seria a última entrega, Rogério mal desconfiava. Tinha sonhos, afinal não era nenhum bandido, a sua vida iria mudar.

Subitamente, dois faróis iluminaram-lhe o rosto, sem perceber a aproximação dum carro. Ofuscado, ouviu uma voz, sem distinguir quem.

- Trouxe a encomenda ? perguntou um indivíduo, para aí trinta anos, barba por fazer, o cliente por quem esperava.

- Sim, sim! Aqui está. Ainda vem quente!- respondeu, sem conseguir ver bem a pessoa.-O sr.Rogério também mandou isto para si- acrescentou, entregando pizza e envelope.

- Hummm! Deixe-me lá ler isso! –retorquiu o sujeito, rasgando o envelope , apenas continha  um pequeno papel.

- É! Realmente você merece o combinado com o Rogério!- respondeu - Aguarde um pouco, já trago o que é seu... – acrescentou, dirigindo-se ao porta luvas do carro.

Rápido percebeu que este era um serviço diferente ao vislumbrar uma pistola de 9 mm a si apontada. Era tarde demais para qualquer reacção. Tombou com 3 balas cravadas no peito, enquanto o carro se afastava a toda a velocidade, o coração batendo aceleradamente,depressa  fraquejando.

Bem em frente a si, na calçada, a folha de papel que estava no envelope. Já a desfalecer, turvo, ainda pôde ler, “é esse o tipo”.A letra era de Rogério, reconheceu-a, ainda tentou gritar sem sucesso.

- Grande cab…- bolçou, logo parando o coração, olhos sem cor, inerte.

A essa hora, Rogério e Joana, no Cacém, recebiam uma visita.

-Pois é, sr. Rogério, vou ficar com o quarto. Fui despedido, mas  tenho o fundo de desemprego para me manter até aparecer alguma coisa ,para mim está óptimo!

Ricardo ouvira falar no Lubango, que Rogério estava a alugar o anexo dos fundos de sua casa. O antigo inquilino iria mudar para o Algueirão, disseram.

-Ora! Chama-me Rogério! Podes mudar hoje ainda se quiseres. A propósito, esta é minha mulher, Joana…

Pondo-lhe  as mão no ombro , entraram os três no anexo.

Olha, vou-te propor um negócio fixe.Tens carta de motorizada, não tens?....

publicado por Fernando Morais Gomes às 20:25

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