Sintra, Centro de Emprego 7h40m.A fila a tomar forma,procissão renovada,suplente da vida, primeira senhas não primeiras escolhas,mais dois chegando,estreita oportunidade,fila estreita.Curso acabado, estágios gratuitos, licenciatura em estágios pela frente, Rita,mais duas,um som no auricular,a acordar:
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
7h50m.Doze,quinze,dezasseis,Alberto,despedido,licenciados, sem licença ainda, faz frio, há que esperar, primeiros na fila,não na escolha,arrefece.
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
8h00m-Abrem-se as portas, candidatos sobreviventes avançam para os sobreviventes escutando candidatos, primeiro emprego segundo andar, subsídio, vai acabar, vaga em Arruda, alguém quer? A fila avança,a vida não avança.
E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
8h50m-Zombies na sala, impresso na mão, e porque não levantados do chão? Surdina em silêncio, não se ouvem mas estão,sorriso adiado, filho por fazer,um prego ao jantar,a reforma da mãe,ah! mas liberdade. Facebook, cinquenta comentários,protesto em download,enredados na rede.
Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
9h20m.A fila a dissipar fora, a engrossar dentro, fora da vista menor o tormento,dali para o café, o sofá em casa, de novo café, de novo sofá, duas semanas e novo regresso,carimbo novo, passaporte para o limbo, novas oportunidades, será a oportunidade?. A sala em coma e a música sem auricular agora, invasora, desafiadora, a sala amorfa do centro do desemprego pareceu mexer, que fazer?
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
9h40m. Despachados finalmente, tudo como dantes, quartel em Abrantes, regressar, lutar, desistir, fugir? Amanhã,tarde para ter um passado, demasiado cedo para desistir do futuro. No casting do emprego a espera por uma operação triunfo.
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguem bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
Sintra, 7h 40m,Centro de Emprego, nenhum emprego no centro. Novo dia, monotonia nova,frio chegará a aquecer?