Mário, Florêncio, Osmán, trinta mais, sessenta e nove dias de escuridão ,sessenta e nove dias de luz brilhante e redentora para quem desceu mineiro e subiu Homem. Sessenta e nove dias de sombras, palavras partilhadas, noivas sonhadas, vidas de sobrevivência. Como naquela outra alegoria, sem espelhos, sombras projectadas na parede interna da caverna. E o fogo da esperança sessenta e nove vezes aceso em torno duma lata de conservas , duma reserva de esperança e provação. Perto do fogo destruidor dos medos e das finitudes humanas, ofuscados pelo presságio dum fado de vida quase certeza de morte, o milagre para lá das sombras, a unir para a sobrevivência. Por eles, por elas, por nós. Do insuportável calor numa mina perdida do deserto chileno, as sombras viraram esperança, a esperança virou luz, o braço aflito e sequioso dos homens na sombra encontrou o braço solidário e quente de toda Humanidade naquela cápsula elo entre a Vida e a Morte.
Estão já fora da caverna. Da tangível, escura, castigadora, mas também da do medo, do desalento, da descrença. A Vida venceu o Destino algures nos arredores de Capiapo, Chile, Mundo.